A espiritualidade missionária scalabriniana brota
da experiência bíblica. A memória do Antigo e Novo Testamento está enraizada na
experiência de um Deus que caminha com seu povo. A Bíblia começa no Gênesis num
jardim e termina no Apocalipse com a chegada numa cidade: a Jerusalém celeste.
As páginas que retratam caminhada, saída, chegada, êxodo, migração são
numerosas: desde Abraão e os outros patriarcas, passando pela experiência do
êxodo no Egito e do exílio em Babilônia até Jesus que é retratado pelos evangelistas
como um andarilho, para terminar, depois da experiência pascal, nas viagens
missionárias dos discípulos entre as comunidades espalhadas no império romano.
Nas entrelinhas das palavras bíblicas, podemos perceber uma caminhada de
amadurecimento que vai da tomada de partido de Deus em defesa dos migrantes (Dt
10,17-19) até a identificação de Jesus com o mesmo migrante (Mt 25,35).
A espiritualidade missionária scalabriniana brota
da experiência de Scalabrini. Como o bom samaritano (Lc 10,29-37), Scalabrini
se deixou interpelar pela realidade de sua época, marcada profundamente pela
migração. Surgiu uma resposta integral, para acompanhar e defender os
migrantes. Elaborou uma visão da migração que não somente percebia o drama e os
perigos, mas também vislumbrava a ação de Deus escondida por detrás deste
fenômeno, enxergando a providência divina em todos estes acontecimentos.
A espiritualidade missionária scalabriniana brota
da experiência de cada um de nós ao lado dos migrantes. O encontro com os dramas
e as alegrias dos migrantes faz brotar uma espiritualidade de encarnação, que
se manifesta na acolhida, comunhão, inclusão e valorização das diferenças. O
encontro com a experiência do êxodo dos migrantes nos ajuda a viver a
“itinerância” e ser peregrinos na direção do outro. O encontro com o migrante
nos desafia a viver a comunhão na diversidade, denunciando os projetos de
exclusão, de eliminação das diferenças e anunciando o projeto de Deus que cria
uma dinâmica que nos faz passar continuamente da comunhão para a diversidade e
da diversidade para a comunhão.
A espiritualidade scalabriniana é extremamente
atual e profética. Nunca na história a humanidade experimentou tantos encontros
de pessoas e povos de culturas e etnias diferentes num ritmo sempre mais
acelerado. Contudo, o nosso mundo se caracteriza também pelo individualismo,
anonimato, competição, globalização, lógicas de exclusão, onde o ser humano
corre o perigo de ser um simples número, a existência uma grande corrida, a
vida sufocante, as relações funcionais e onde cresce a concentração de
indivíduos, sem, porém que isso signifique encontro de pessoas. A
espiritualidade missionária scalabriniana, alicerçada em Jesus Cristo,
inspirada em Dom Scalabrini, apóstolo dos migrantes, tentam criar comunidades
onde, em nível interno aconteça a saída de si mesmos, acolhida, encontro
profundo, comunhão a partir das diferenças e não apesar das diferenças,
diálogo, solidariedade, valorização da dimensão cultural como algo a ser
partilhado.
A mesma espiritualidade missionária scalabriniana
guia em nível externo as comunidades e as pessoas rumo à abertura aos outros,
ao mundo, a Deus, o diálogo com o diferente, o testemunho do respeito
recíproco, o anúncio de um mundo sem barreiras, a denúncia do escândalo da exclusão
e da discriminação.
Desta forma a espiritualidade missionária
scalabriniana antecipa, de maneira parcial, o encontro do ser humano migrante
rumo à comunhão definitiva com Deus.
Pe. Alfredo Gonçalves, cs.
Missionário Scalabriniano
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